“O pilar da minha autoestima não pode ser algo que não é real”
A integrante do Rouge falou com a ELLE sobre a transformação que a fez desistir dos apliques capilares para viver em paz com sua própria beleza.
Em 2018, a hashtag #VamosPensarSobreBeleza se transforma em uma coluna mensal da revista e do site da ELLE. Enquanto na nossa edição impressa discutimos os assuntos mais quentes com reportagens inteligentes a respeito do que é beleza atualmente, aqui entrevistamos garotas que vivem isso na pele, todos os dias, e contamos as suas histórias.
FOTOS Andreia e Nathalia Takeuchi | BELEZA Renata Brazil | STYLING Ana Parisi
Nosso abraço durou, mais ou menos, uns 30 segundos. Aline Wirley chegou ao estúdio em São Paulo com uma hora de atraso e, preocupada, logo que passou pela porta começou a se desculpar com seu jeito expansivo. Enquanto ela gritava “gente, me desculpa, o avião atrasou”, eu respondia na mesma altura, e ninguém se ouvia. Percebendo a satisfação de um no olhar do outro, nos abraçamos como se nos conhecêssemos há muito tempo.
Aline veste Diane von Furstenberg (Andreia e Nathalia Takeuchi/ELLE)
De fato, eu já conhecia Aline desde a época em que ela ainda era uma das candidatas da primeira temporada do reality show Popstars, que foi ao ar no SBT em 2002. Aliás, assim que os discos da girlband brasileira – formada pelas cinco vencedoras do programa – foram relançados nos serviços de streaming no final do ano passado, revivi memórias divertidas da família inteira dançando “Ragatanga” – um dos hits de maior sucesso do Rouge. No entanto, ela ainda não me conhecia, e como estávamos prestes a falar sobre momentos tão íntimos e delicados de sua busca por autoconhecimento e autoestima, achei que seria bom me abrir também. Tietei sem medo, agradeci e aos poucos fomos dos gritos acalorados a um diálogo em que conseguíamos entender de onde vinha todo aquela afinidade: ambos viemos do interior de São Paulo e chegamos onde jamais imaginaríamos estar (salvo as devidas proporções, é claro, já que ela se tornou, realmente, uma popstar).
Sentamos em uma mureta que cercava a árvore logo em frente ao estúdio logo depois de clicarmos as fotos extraordinárias que vocês veem nessa matéria e, finalmente, começamos a pensar sobre beleza. “Desde que engravidei, percebi que precisava me encontrar. A maternidade chega de uma maneira muito instintiva, e, quase sem você perceber, começa a acessar lugares muito profundos”, revela. “Eu entendi que precisava ser uma pessoa melhor: para mim, para o meu filho, para as pessoas que eu amo e, para que isso acontecesse, o primeiro passo era me conhecer de verdade”.
“Eu continuo muito vaidosa, adoro me arrumar, adoro meus unhões, mas não quero mais ficar aprisionada por isso. Não quero que minha beleza me limite.”
Há oito meses, Aline desistiu dos apliques capilares que usava desde sua infância em Cachoeira Paulista como conta nesse vídeo que postou em seu canal no YouTube. A transformação deu o start exatamente ali, quando esses questionamentos chegaram. “Na minha adolescência, quando comecei a entender quem eu era, meu sonho era ter um cabelo esvoaçante, lindo, que não era o meu. Antes dessa virada, meu cabelo nunca esteve tão grande, ele chegava antes de mim. Acontece que eu depositava tudo nele, era como se fosse uma licença para ser um pouco mais aceita”, conta ressaltando que entende quem usa aplique e não julga ninguém por isso, mas que, para ela, deixá-lo para trás significava estar satisfeita com a realidade do seu corpo. “Quando ele saiu, eu pensei: ‘tudo continua aqui, eu não sou só esse cabelo, os pilares da minha beleza enquanto pessoa não podem depender desse cabelo porque ele não é real’.Houve quem dissesse coisas como ‘você não deveria ter feito isso’, mas, ao mesmo tempo, foi incrível perceber o quanto essas mesmas pessoas mudaram depois de entender minha história ao assistir ao vídeo”, relembra.
Aline usa vestido Forum (Andreia e Nathalia Takeuchi/ELLE)
“Falando de mulheres, e no meu caso em especial, de mulheres negras, essa reforma foi essencial porque ela encerrou uma fase da vida em que eu estava me distanciando daquilo que eu realmente sou. É algo que estou aprendendo todo dia, me amando mais um pouco a cada dia, independentemente do cabelo que eu tenho. Eu continuo muito vaidosa, adoro me arrumar, adoro meus unhões, mas não quero mais ficar aprisionada por isso. Não quero que minha beleza me limite.”
Depois de tudo isso, ainda em meio a muito trabalho – Aline foi embora e a próxima entrevistada já estava sendo fotografada enquanto organizávamos todo esse processo – fiquei pensando no quanto, muitas vezes, saímos de casa e vamos para o mundo achando que, indo para outro lugar, encontraremos o que está perdido dentro de nós. Eu fiz isso, Aline fez isso e conquistou o Brasil inteiro cantando, vivendo daquilo que ama. No entanto, no meio do caminho esquecemos de viajar para dentro de nós e, eventualmente, essa jornada se tornou inevitável. “Eu sei que eu sou uma pessoa bela porque eu tenho que provar isso apenas para mim. Quando a gente coloca a cabeça no travesseiro, é a gente com a gente mesmo. Precisamos entender que o que nos deixa bonitos é o fato de sermos únicos e abraçar isso cada dia mais”, resume. A quem lê, fica o convite para um passeio por sua própria beleza. Boa viagem e até o mês que vem no próximo VPSB!
Por Pedro Camargo access_time25 jan 2018, 10h00 - Atualizado em 25 jan 2018, 14h47