O ator Igor Rickli e a cantora Aline Wirley falam sobre as viagens que fazem em família e contam como transformam esses passeios em lições de vida para o filho de 5 anos
Em entrevista exclusiva à CRESCER, o ator Igor Rickli, 35, e a cantora Aline Wirley, 37, falam sobre o Projeto Sementes, um jeito de transformar viagens em família em algo que vai muito além da diversão. “Antonio é uma criança privilegiada. Nós não tivemos isso, assim como grande parte da população do nosso país não tem", diz o ator. Ele acredita que mostrar a diversidade cultural e a desigualdade social pode ajudar a criar crianças mais conscientes e empáticas. Confira entrevista exclusiva:
Por que é importante fazer viagens em família?
Igor: A vida de todos nós está muito acelerada e passamos pouco tempo com as pessoas que amamos. Viajar é, para nós, uma maneira de nos reconectar, de ficarmos juntos, celebrar a nossa família e as coisas que importam.
Vocês sempre gostaram de viajar? O que mudou depois do Antonio? Aline: Nós amamos viajar, conhecer lugares novos, pessoas diferentes, outras formas de viver, outras culturas, seja longe ou perto. Viajar faz parte do que consideramos essencial para abrirmos as nossas mentes e ampliar nossa percepção do mundo. Eu e Igor sempre viajamos muito por conta das nossas profissões, então Antonio nasceu viajando. Mas com criança, a logística muda bastante, nosso olhar fica mais atento às necessidades dele, apesar de o Antonio ser muito descolado e também adorar viajar.
Qual foi a primeira viagem dele? Aline: Foi para São Paulo. Antonio estava com 5 meses e eu tinha um show agendado. Ele só mamava no peito e em livre demanda. Então, o melhor jeito que encontramos foi levá-lo. Mas, acredito que a primeira viagem de que ele tem lembrança e que nutre nele a paixão por viajar, foi para a Disney, quando ele tinha 3 anos. Antonio tinha uma amor gigante pelo Mickey e decidimos levá-lo para lá. Porém, por ser uma viagem internacional, com muitas horas de vôo, mudança de fuso e uma logística mais complexa, começamos a achar que pudesse ser estressante para ele. Só que como Antonio estava empolgado para conhecer o Mickey, tudo pra ele se transformou em motivo de alegria, brincadeira e felicidade. Ele lembra dessa viagem até hoje.
Que viagem que fizeram foi inesquecível? Aline: Todas. Cada viagem que fazemos nos enche de vontade de viajar mais, amplia nossos horizontes e faz bem para alma. Ir para a Disney ou para a casa da avó é especial, desde que estejamos juntos e aproveitando cada momento.
Recentemente vocês foram visitar o projeto Retratos da Esperança (BA). Como foi a experiência? Igor: Estamos desenvolvendo um projeto que se chama Sementes. A ideia é levar o Antonio para conhecer as diferentes realidades do nosso país. E, além disso, conhecer pessoas que são agentes de transformação nesses lugares. Como pais, começamos a entender a necessidade de mostrar ao nosso filho a diversidade cultural e a desigualdade social que enfrentamos. Antonio é uma criança privilegiada. Quero que ele cresça um homem consciente e empático. Através do Sementes, fomos para o interior da Bahia e fomos recebidos com muito carinho por uma família com quase nenhum recurso para viver. Passamos a noite nessa casa que estava sendo construída, não tinha energia elétrica, nem água, nem banheiro, uma situação bem precária. Nós achamos que o Antonio, de alguma maneira, fosse reclamar, sem entender exatamente o porquê de estarmos ali. No entanto, mais uma vez, fomos surpreendidos. Ele observou tudo com atenção, não reclamou de nada e conseguiu entender que aquelas pessoas precisavam de ajuda. Brincou com as crianças, fez xixi no mato e depois nos questionou muito sobre tudo. Aquela experiência trouxe, com certeza, sentimentos que, até então, achamos que ele não conhecia: compaixão e percepção real da desigualdade social do Brasil.
Você acha que as crianças aprendem muito em viagens em família? Aline: Sim. O Antonio, por exemplo, gosta de explorar lugares e sempre volta de cada lugar que vamos com histórias para contar. É bastante aventureiro. Tivemos a oportunidade, em uma viagem que fizemos a Chapada Diamantina, de fazer uma trilha dentro da Gruta Lapa Doce. No começo, ele estava com medo porque a gruta é completamente escura. Mas, no decorrer do caminho, de mãos dadas com a pai, foi emocionante ver como com imaginação e amparo o medo foi substituído. As estalagmites viraram super-heróis e, de repente, estávamos dentro da caverna do Batman. Quando saímos da gruta, Antonio estava eufórico de alegria por ter conseguido vencer seus próprios medos. Foi especial demais vê-lo se superando.
Quais são os maiores desafios em viajar com uma criança pequena? Deslocamento, alimentação, rotina, sono...? Igor: Crianças são imprevisíveis e, mesmo quando temos uma programação, tudo pode mudar. Ele já está acostumado e entende que quando vamos viajar as coisas vão sair da rotina. Mesmo assim, nosso olhar fica sempre atento para entendermos as necessidades dele. Nós gostamos muito de viajar de carro, o que, por um lado, é ótimo porque temos mais tempo juntos. Mas, dependo da distância a viagem pode ser cansativa. Então, sempre nos programamos para sair durante o período da noite, para que ele durma o máximo de tempo. Geralmente, essa logística dá certo.
Que item é essencial para quem quer viajar com criança, inclusive bebês? Aline: Paciência (risos). Acho que depende da idade da criança, como o Antonio já está com 5 anos, incentivamos ele a fazer uma malinha de coisas que deseja levar, como os brinquedos de que ele mais gosta e livros. Enfim, coisas que tenham valor emocional para ele.
Como vocês escolhem o destino da viagem? Igor: Depende. Não conseguimos nos planejar muito por conta das nossas agendas. Então, tudo depende de quanto tempo teremos. Geralmente escolhemos lugares que sejam bons para a família.
E como organizam o roteiro? Aline: Fazemos pesquisa de tudo que é possível explorar, pensando, obviamente, que o Antonio estará com a gente em tudo. Mas também gostamos de sair do roteiro.
O que trazem na bagagem de cada viagem? Igor: Histórias para contar, experiências compartilhadas e, se for para comprar alguma coisa, que seja algo que nos reconecte com o lugar em que estivemos.